A defesa da democracia burguesa esconde o abandono da perspectiva revolucionária. Relato do terceiro dia do Congresso da UNE

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Na manhã do terceiro do Congresso Extraordinário da UNE, ocorreu a mesa Democracia sob ameaça: do autoritarismo do planalto à ausência nas periferias. Fizeram falas Eliane Martins (Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos-MTD), Juliete Pantoja (MLB) e os deputados federais Glauber Braga (PSOL) e Marcelo Freixo (PSB).

Todas as falas foram no sentido de lamentar que a “nossa democracia” não consegue incluir os moradores das periferias, o caráter autoritário,” fascista” do governo Bolsonaro, a ameaça que ele representa para o sistema democrático e a “necessidade” de conciliar com as mais amplas forças para derrotar o bolsonarismo.

As menções ao fantasma da Ditadura Militar são frequentes, algumas exposições vieram com tom alarmista de que as eleições de 2022 podem ser as últimas e como se estivéssemos à beira de um golpe autoritário.

Mas o que vemos, é um governo cada vez mais desgastado e impopular. Bolsonaro está cada vez mais isolado, inclusive, diversos setores da burguesia que cogitam apoiar Lula nas eleições de 2022 ou o impeachment, ambos na esperança de frear a insatisfação popular crescente e que pode explodir como tem acontecido em nossos vizinhos latino-americanos, o que pode ser ruim para os negócios. Quando falamos da Ditadura Militar, falamos de um regime que foi derrubado, principalmente pelas greves no ABC e pelo ascenso do movimento operário, isso, no entanto, parece ter sido esquecido pelas direções reformistas, já que em nenhum momento se mencionou a necessidade de uma greve geral para derrubar esse governo.

Estamos vendo manifestações de rua cada vez maiores pelo Fora Bolsonaro já, estas, porém, foram secundarizadas e tratadas como uma linha auxiliar a um eventual processo de impeachment no congresso pelos participantes da mesa. Fica bastante claro que a direção da UNE não tem qualquer intenção de colocar a derrubada de Bolsonaro na ordem do dia e muito menos de fazer com que essa derrubada venha pelas mãos dos trabalhadores e da juventude.

A juventude é um dos principais setores prejudicados pelas políticas de austeridade e está a cada dia com menos perspectiva de emprego e de estudo (vale ressaltar que o número de inscrições para o Enem esse ano foi o menor desde 2007). Essa tragédia, porém, não é recebida com passividade, muito pelo contrário, há muita disposição de luta. Em maio de 2019, centenas de milhares de estudantes foram às ruas em todo o Brasil quando foram anunciados cortes na educação, obrigando o governo a recuar. Naquela época, o governo não tinha um décimo do desgaste que acumula hoje, com o desastre da pandemia e ainda assim, foi incapaz de enfrentar a revolta dos estudantes, enquanto várias direções falavam de fascismo, que tudo estava perdido e tínhamos que rebaixar nosso programa para caber numa aliança com a “burguesia democrática”.

Quem vê o nível da discussão nas mesas promovidas pelo Conune, pensa que estamos todos assistindo passivamente a uma hecatombe e que nada nos resta além de conciliar com as “forças progressistas”. Essa esquerda reformista resignada, que está sempre pensando em como perder menos, e não em como vencer, que vê como única alternativa se submeter a supostos setores democráticos da burguesia, num momento em que jovens e trabalhadores tomam as ruas é diretamente responsável pelo buraco no qual estamos.

Diferente do que pensam alguns dos participantes da mesa, o governo Bolsonaro não constitui de fato um governo fascista, mas se este fosse o caso e dependêssemos dessas direções seríamos todos facilmente esmagados.

Bolsonaro, como indivíduo, flerta com ideias fascistas, por sua vontade, eliminaria sim comunistas, LGBTs e todos os seus opositores, mas ele não tem uma base de massas para isso, um partido de orientação nazista para apoiá-lo nessa empreitada. É claro que se estivéssemos, de fato, sob uma ameaça fascista, os trotskistas seriam os primeiros a organizar a resistência através da Frente Única Proletária, como fizemos na década de 1930 quando os Integralistas tentaram se converter em um partido de massas. Nos organizamos, em frente única, e colocamos os galinhas verdes para correr, o que fez com que até os dias atuais, essa escória não ousasse se levantar como partido. Leia mais sobre isso no artigo “Quem tem medo de Fascistas?”

Recentemente, as tentativas de invadir assembleias e universidades, na UnB e na USP, por bolsonaristas enraivecidos foram combatidas pelo Movimento Estudantil em uma clara demonstração de organização e disposição de luta.

A concepção sobre o governo Bolsonaro ser um governo fascista é, na verdade, uma forma daqueles que abandonaram a perspectiva revolucionária e a confiança na classe trabalhadora, de defender o Estado democrático de direito e a democracia burguesa, que nada têm para nos oferecer.

Fica evidente que sob o imperialismo, a burguesia é reacionária em toda linha e mesmo as suas instituições ditas “democráticas” são cada vez mais autoritárias. Fala-se muito de o governo Bolsonaro ser autoritário, “fascista”, mas esquece-se de pontuar que a Lei de Segurança Nacional e a Lei de Garantia da Ordem foram aprovadas sob governos petistas. Isso apenas nos mostra que aqueles que tentam administrar o Estado burguês, seja da direita ou reformistas, inevitavelmente terão que atacar a classe trabalhadora para gerir a crise do capital e terão que enfrentar a resistência das massas com o recrudescimento do Estado e da repressão. O governo Bolsonaro é uma expressão disso com um programa claramente de direita, ultraliberal e ultra reacionário. O capitalismo é um sistema falho, suas instituições “democráticas” estão totalmente podres e não servem mais aos jovens e trabalhadores, que não acreditam mais nesse sistema e buscam saídas, testam programas. Estão buscando uma forma de mudança. A própria eleição de Bolsonaro representou essa busca, a partir da utilização de um discurso radical, de que “precisa mudar tudo que está aí, tá ok?”. Essa fala convenceu muitos jovens e trabalhadores que foram traídos com diversos ataques realizados nos anos de mandato do PT.

No mundo inteiro, são as instituições capitalistas que estão sob ameaça e assim estão por não podem oferecer uma vida digna e uma perspectiva de futuro. Apenas mais sofrimento e exploração. Por isso defendemos uma perspectiva socialista, apenas uma democracia operária pode responder às necessidades dos trabalhadores, através da planificação da economia e controle dos trabalhadores, organizados em assembleias com delegados eleitos e mandatos revogáveis a qualquer momento, com salários que não ultrapassem o salário de um operário médio especializado e com os trabalhadores auto-organizados para a sua própria auto defesa, quebrando o monopólio da violência que detém o Estado. Apenas assim uma democracia real poderá ser exercida por todos os trabalhadores.

Por isso, apontamos a necessidade de uma greve geral para pôr abaixo Bolsonaro e todo seu governo, por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!

É por essa perspectiva que lutamos. Junte-se a nós!

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*Verônica Chypriades é estudante de Filosofia da USP

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