Assembleia Geral já para unificar a luta do CRUSP e da FAU!
No dia 20 deste mês de setembro, ocorreu a paralisação estudantil que reivindicou centralmente a resolução da falta d‘água no bloco F do CRUSP. Mas a paralisação não se restringiu a essa reivindicação e chacoalhou as direções estudantis.
Contra toda a ladainha dos dirigentes das entidades estudantis que tentam justificar seu próprio imobilismo alegando que os estudantes da USP não estão dispostos a lutar, a solidariedade com os moradores do CRUSP que estão sem água mobilizou e unificou a base dos estudantes. É o que chamamos de Frente Única, a tática de unificar o movimento a partir de reivindicações concretas e, a partir disso, elevar o nível de consciência, converter cada reivindicação numa luta política.
A aprovação da paralisação por todos os cursos da FFLCH, IME, FEUSP e FAU, além da participação dos próprios cruspianos e do apoio do Sintusp à paralisação, revela uma série de outras reivindicações que devem convergir numa discussão central: como relacionar as pautas de reivindicações e organizar um combate de frente única que ponha estudantes e trabalhadores numa luta comum em defesa de uma Educação Pública, Gratuita e para Todos?
Todos os diversos problemas da Universidade têm origem no sistema que se utiliza dos recursos públicos para encher os bolsos de banqueiros e especuladores. Nunca falta água para os eventos privados que a USP realiza com seus parceiros empresários. O sistema de pagamento da Dívida Pública, que funciona tanto em nível federal quanto em nível estadual, faz com que cerca de metade de tudo o que é arrecadado em nosso país seja usado automaticamente para o pagamento de juros e amortizações de dívidas que não foram feitas pela classe trabalhadora.
No caso da USP, haveria recursos de sobra para sanar todos esses problemas, bem como para ampliar vagas e contratar funcionários e professores, mas o dinheiro vai para os bolsos de burgueses banqueiros e especuladores.
Esses problemas dialogam com o período eleitoral que se passa no momento, e se é verdade que a classe trabalhadora está buscando usar a candidatura de Lula para derrotar o governo Bolsonaro, também é verdade que Lula nunca resolveu o problema da dívida pública que só fez crescer em seus governos. É na luta da juventude e dos trabalhadores que mora a solução. É preciso por abaixo o Governo Bolsonaro e de Rodrigo Garcia, mas isso não basta. É preciso construir um governo dos trabalhadores sem patrões e nem generais!
Por isso defendemos no dia 20, dia da paralisação, que o DCE já deixasse marcada uma data para uma nova assembleia para antes da eleição (dia 02 de Outubro). Essa convocação é fundamental para que a luta não mingue, neste momento o DCE é testado pela base se se colocará como ferramenta da luta ou se sucumbirá ao eleitoralismo. Não convocar uma assembleia geral dos estudantes imediatamente, para decidir os rumos da luta, será uma traição aos estudantes em luta no CRUSP e na FAU. Aqueles que se negam a convocar a assembleia, alegando que estão dedicados à campanha eleitoral, cometem uma traição criminosa.
Além disto, é preciso também que as demais entidades que aprovaram a paralisação convoquem os estudantes para um balanço do dia 20 e discutam suas reivindicações de curso e instituto. É nesse processo, em nível de curso e de Universidade, que se construirá uma plataforma de reivindicações mais clara e coesa e que envolverá uma base maior de estudantes na mobilização. No CRUSP a mesma coisa deve ser produzida, a convocação dos moradores em assembleia com o mesmo objetivo: realizar o balanço da paralisação e discutir as perspectivas.
Esse é um breve panorama das movimentações e do que entendemos ser fundamental a partir da paralisação. Saudamos todos os estudantes e trabalhadores em luta, pois este boletim é um órgão da luta dos estudantes e funcionários da USP.
A luta pela água no CRUSP: um balanço e nossas propostas
A falta d’água no CRUSP é uma vergonha. Onde se concentra talvez o maior número de quadros técnicos qualificados nas áreas de engenharia e de arquitetura, prédios baixos de 6 andares ficam sem água por semanas e sofrem com a intermitência por meses e a reitora dá respostas ridículas.
A Cidade Universitária, abrigando diariamente já perto de 100 mil pessoas – entre trabalhadores, estudantes e visitantes de todos os tipos – tem uma população usuária maior do que 567 – das 645 – cidades do Estado de São Paulo, o mais populoso do país. Se fosse um município, estaria beirando a faixa dos 10% mais populosos e sem dúvida entre os mais ricos. Mas a reitoria teima em tentar fazer acreditar que é não tem recursos técnicos para fornecer água ao CRUSP.
A obviedade da situação é o que levou à paralisação estudantil relatada no primeiro artigo. Ninguém acredita nessa ladainha e todos sabem do descaso para com os que precisam das políticas de assistência estudantil. Aos empresários tudo, aos filhos da classe trabalhadora, nem mesmo água. A solidariedade dos estudantes empurrou as entidades estudantis à luta. A reitoria respondeu, supostamente, atendendo a reivindicação e revelando o óbvio: era perfeitamente possível resolver o problema, não há empecilhos técnicos.
Eis a resposta: “SEEF fará obra que duplicará a capacidade dos reservatórios de água no CRUSP para resolver o problema a falta de água nos apartamentos resultante do período em que a SABESP mantém baixa a pressão. Como medida emergencial, a SABESP acordou com a USP a manutenção da pressão alta da água por mais horas, até 00:00, permitindo o uso no período noturno e garantindo abastecimento dos atuais reservatórios.” Também constam entre as promessas o prazo de um mês pra obra e aumento de funcionários na zeladoria. A questão técnica era mesmo uma questão política.
No caso do CRUSP, o maior obstáculo atual (dentro do movimento) é a ação política de grupos intitulados autonomistas, que em nome de uma crítica às entidades estudantis e grupos políticos que as dirigem, a quem acusam de antidemocráticas e oportunistas, acabam por usar de táticas pseudo-anarquistas absolutamente autoritárias e desagregadoras.
Entre as ações desagregadoras, citamos a decisão de autonomistas de fazer um trancaço paralelo por iniciativa própria, sem que tenha sido proposto em qualquer das assembleias, em nenhuma das instâncias deliberativas das entidades, etc. Uma ação “autônoma”. Além de deseducador, afinal esvazia o poder dos espaços coletivos, buscando naturalizar de que não é necessário expor as ideias e convencer os demais, expõem o coletivo às possíveis consequências dos atos de uma minoria irresponsável. Isso equivale à mentalidade do terrorismo, que acredita que mediante atos de heroísmo individual ou de pequenos grupos se pode substituir a ação de massas, a ação da juventude e da classe trabalhadora.
Em muitos atos de rua vemos que a ação dos blackblocks é exatamente o que a polícia utiliza para justificar frente a opinião pública a sua repressão ao movimento, normalmente com brutalidade. Não raro a própria polícia os incita. Os autonomistas são exatamente o tipo de militante de que a polícia mais gosta.
Não somos pacifistas. A classe trabalhadora tem um ódio absolutamente justo e quando explode em massas, varre – fisicamente – toda e qualquer força de repressão. Mas quando os autonomistas fazem sua provocação, não levam em conta o nível de mobilização coletivo, a preparação e a disposição do coletivo. Julgam por sua suposta coragem – embora saibamos que costumam estar entre os primeiros a fugir. Esse tipo de atitude é profundamente desmotivadora e trás desconfiança na base dos estudantes. Esse problema é mais comum no movimento estudantil. No movimento sindical organizado, a ação descentralizada, tirada em reuniões paralelas e sem consentimento do coletivo são comumente impedidas pelo próprio conjunto do movimento.
Esse boletim é um órgão da Liberdade e Luta na USP. Organize-se conosco!
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