Discussão sobre construir sindicatos de estudantes é destaque no segundo dia de Acampamento
O segundo dia (26/1) do Acampamento da Liberdade e Luta iniciou ao som dos instrumentos musicais da comissão da alvorada, acordando os participantes, seguido do café feito por voluntários militantes. A primeira mesa de discussão do dia, com o tema “O mundo em ebulição”, foi coordenada pela militante da LL de Joinville, Bruna dos Reis, e teve como informante a convidada da Corrente Marxista Internacional do México, Fernanda Mosso.
Bruna iniciou sua fala de abertura lembrando um dos acampamentos que aconteceu na Fábrica Flaskô, em Sumaré (SP), onde o convidado, também do México, Christian Medina Gonzales, disse: “o capitalismo mexeu com a geração errada”. Ela fez um apanhado geral das lutas internacionais, começando pela situação dos Estados Unidos, agora com o presidente Donald Trump, que assegurou aos seus convidados no salão de Mar-a-Lago: “será um fantástico 2018”, mas que para a própria burguesia está desmembrando a ordem global construída durante décadas. “Os cidadãos estão divididos, a ordem global se desfazendo”, afirma Bruna. “Não podemos esquecer também do movimento da Catalunha, que luta por independência, contra os ataques e a austeridade”, lembrou. Ela também disse que as pessoas estão buscando alternativas para se emancipar.
Com essa fala, Bruna passou para a convidada mexicana, que fez uma análise histórica sobre a economia no México. Fernanda abordou sobre o período denominado “Cadernismo”, estabelecido durante a 2ª Guerra Mundial. O período seguinte ficou marcado pelo início do tratado de livre comércio. Ela explicou que os governantes presenteavam os Estados Unidos com seus recursos naturais, sua mão-de-obra barata e seu petróleo, que era exportado e depois revendido para o país, enriquecendo as empresas estrangeiras e prejudicando a classe trabalhadora mexicana.
A militante da CMI também abordou os acontecimentos e as lutas recentes, como por exemplo a luta do governo contra o narcotráfico, que foi usada como justificativa para chamar o exército para as ruas, e que na verdade era usado para reprimir a luta dos trabalhadores pelo direito à moradia, água e alimentação.
Em seguida,ela lembrou da crise de 2008, que culminou na queda do reformismo nos países da América Latina, que passaram a praticar uma política de austeridade para manter o pagamento da dívida externa, prejudicando mais uma vez a classe dos trabalhadores e da juventude.
Em 2012 os jovens foram brutalmente atacados, e parcela significativa dos estudantes foi para às ruas contra as reformas e ataques do governo de Peña Nieto (atual presidente do México). Em 2014, 43 estudantes desapareceram em Ayotzinapa, enquanto iam para uma manifestação.
Atualmente, os índices de estupros e assassinato de mulheres são expressivos e o governo aponta como solução a distribuição de apitos para elas se defenderem, sem apontar uma saída definitiva para essa questão.
A militante fechou sua fala abordando que o povo mexicano está se organizando para mudar sua situação atual, sendo a organização política a melhor forma de preparação para o próximo período. Em seguida, a mesa abriu para inscrições e vários jovens tiraram suas dúvidas, além de complementarem com experiências aqui do Brasil.
Como derrubar Temer e o Congresso Nacional
Após o almoço, foi a vez do tema: “Como derrubar Temer e o Congresso Nacional”, que iniciou com uma encenação teatral sobre a derrubada de Temer. A mesa foi coordenada pela militante Renata Ribeiro,da LL de Bauru (SP), e composta também pelas militantes Mayara Colzani, de Joinville, e Lucy Dias, de São Paulo (SP).“Sabemos que derrubar Temer será bem mais difícil que isso (se referindo à encenação), mas temos essa tarefa”, disse Mayara. Ela fez um rápido apanhado da situação do Brasil, se utilizando do texto de Alan Woods “2018: o mundo virado de cabeça para baixo – perspectivas mundiais”. Sobre as tarefas desse ano, ela enfatizou: “as eleições têm um papel importante para discutirmos nossa política com a juventude e os trabalhadores”.
Em seguida, Lucy explicou como funcionaria a derrubada de um governo e em que situações haveriam essas condições. Ela também resgatou um pouco da história de uma das maiores vitórias do proletariado, a Revolução Russa, que trazem lições riquíssimas para os dias atuais. “É preciso ter um partido revolucionário com uma direção revolucionária para haver de fato uma revolução”, enfatizou a militante. Lucy explicou que a formação da juventude é essencial, para que se possa compreender, se organizar e se preparar para a derrubada do sistema capitalista.“Precisamos conseguir trazer mais jovens com vontade de tomar o poder juntos, na América Latina e no mundo todo”, finalizou.
Sindicatos dos estudantes
No final da tarde, após o café, os jovens se reuniram para ouvir e discutir sob o tema “Construir os sindicatos dos estudantes”, mesa coordenada pela militante da LL Mayara Colzani, com informe de Bruna dos Reis. Bruna começou sua fala com um breve apanhado sobre a história dos sindicatos no Brasil e também do movimento estudantil. “Tudo o que se é ensinado e que se aprende nas escolas hoje, o jeito como ela funciona, está carregado de todas as contradições de classe, como a precarização e o conteúdo limitado da classe dominante”, explicou. Bruna destacou que foi isso tudo que fez com que os estudantes e os professores começassem a lutar por melhores condições na educação, nascendo assim o movimento estudantil”.
Ela lembrou também da força do movimento estudantil durante a Ditadura Militar, onde jovens foram perseguidos e mortos com a repressão, o que desencadeou diversas manifestações populares. Além disso, destacou o período recente de movimentação, que foram as ocupações de escolas em 2015 e 2016, contra todos os ataques dos governos estaduais e federal, como a reforma do ensino.
Bruna apresentou uma proposta de resolução, de como deve ser o sindicato estudantil: democrático, de base, independente politicamente, independente financeiramente, posicionamento político pelo socialismo, contra a burocratização do movimento estudantil e com uma aliança operário-estudantil. “Sociedade comunista significa que tudo é comum. O trabalho comunista não pode ser criado da noite para o dia, é preciso construí-lo com base na luta”, finalizou Bruna.
Ao fim do informe, diversos jovens e militantes mais experientes se inscreveram, entusiasmados para dividir suas experiências, foi a mesa que mais recebeu inscrições de falas. Gabriela, militante da LL de Joinville, iniciou com um apanhado do seu envolvimento no movimento estudantil: “a gente tem que se esforçar, aproveitar cada plenária para adquirir conhecimento e nos prepararmos para a revolução”. Henrique Airoso, militante da LL de Joinville e estudante da Udesc, também contou um pouco da sua experiência e disse: “temos uma política acertada, uma perspectiva de luta. A gente só vai ser feliz se tiver a revolução”. Pedro, militante da LL do Rio de Janeiro (RJ), disse que os jovens precisam criar consciência e “sentir o peso da história sobre eles”. Ele finalizou dizendo: “podemos ser a vanguarda do movimento que há por vir”.
Vinícius, militante da Esquerda Marxista e entusiasta da LL, destacou o papel da discussão política no movimento estudantil: “nós estamos olhando para aqueles que no meio da massa dos estudantes se destacam e se dispõem para a luta, estes serão nossos futuros quadros para a revolução”. João Diego, militante da LL de Curitiba (PR), explicou a necessidade de consciência dos estudantes, para que reivindiquem seus direitos com protestos, paralisações e até greve estudantis. “São esses tipos de atitude que caracterizam o grêmio, a entidade, como um sindicato dos estudantes”, finalizou.
Após o informe, os jovens jantaram e confraternizaram com um luau na praia dos Ingleses. Nos próximos dias, o acampamento continua com grupos de trabalho discutindo suas frentes de intervenção, formação sobre a “História da Revolução Cubana”, diversas apresentações culturais e também um Cine-debate. No último dia do acampamento acontece a Plenária Final, com discussões e aprovação das resoluções. Os jovens seguem animados e participativos, fazendo um lindo acampamento com muita discussão política, troca de experiências e confraternizações culturais.