Nosso tempo: derrubar o capitalismo, construir o socialismo
Este artigo foi originalmente publicado na brochura “Sou Liberdade e Luta”, lançada em nossa Conferência Nacional realizada em 23 de outubro de 2021. A brochura tem como objetivo registrar nossa história, nossa fundação, nossos princípios e nossas campanhas. Em 2023, completamos sete anos de existência e decidimos publicar o conteúdo dessa brochura para que todos possam ler e nos conhecer melhor. Ao final deste artigo você também pode baixar o PDF completo da brochura. Você pode contribuir para que possamos seguir publicando materiais como esse e para o autofinanciamento de nossa organização, doando qualquer quantia através do PIX: souliberdadeeluta@gmail.com. ISBN: 978-65-00-32924-7. Boa leitura!
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O capitalismo foi um modo produtivo capaz de proporcionar o maior avanço alcançado pela humanidade, ao menos, até 1848. A partir da segunda metade do século XIX, a história nos ensina como a burguesia, a classe social dirigente desta sociedade, deixou de possuir qualquer rastro progressista, sendo que, ao invés de desenvolver as forças produtivas como fazia até então, passou a destruí-las, e como os desenvolvimentos que alcançou viraram armas para seguir explorando e oprimindo aqueles que produzem toda a riqueza, a classe trabalhadora. Deste modo, este sistema passou a proporcionar à humanidade um horror sem fim, pelas crises de superprodução, as depressões econômicas e o imperialismo, sua fase última e superior. Estes elementos fazem parte da natureza capitalista, porque se trata de um sistema que se afunda em suas próprias contradições, a propriedade privada dos grandes meios de produção e os Estados nacionais, aprofundando a cada período a desigualdade social, o desemprego em massa e milhões de trabalhadores morrendo sem acesso a direitos básicos para dignas condições de vida.
A barbárie capitalista se evidencia em nosso tempo por crises maiores que as dos livros de história, que nos chocavam anteriormente, mas que hoje são nossa realidade. Diante disso, podemos nos perguntar, então, por que o capitalismo não é derrubado. O revolucionário internacionalista Leon Trotsky, dirigente da Revolução Russa de 1917, nos explicou em seu “Programa de Transição”, de 1938, que as condições objetivas para o fim deste modo produtivo estão já apodrecidas, mas que a condição subjetiva, sendo esta um Partido Operário Revolucionário capaz de organizar a revolta das massas trabalhadoras e da juventude, ainda se encontra travada à crise das direções dos trabalhadores. Isto é, que toda a crise da sociedade burguesa é acrescida pela crise de direção revolucionária, devido ao papel traidor e conciliador dos reformistas que buscam salvar este sistema falido. Assim sendo, a tarefa mais importante para um ser humano hoje é a luta pela construção do fator subjetivo, de um partido revolucionário com influência de massas e que tenha, como base de seu programa, o marxismo, a ciência da revolução proletária.
Nesta correlação de forças, nosso papel, enquanto vanguarda da juventude, se sobressai pela capacidade de ser a primeira corda a vibrar ao som da revolução. Por isso, temos a tarefa crucial de aprender o materialismo histórico-dialético, o marxismo, para compreender que é impossível gerir essa crise sem continuarmos a sentir sangrar a carne de milhões de trabalhadores e jovens. Neste estudo proporcionado pela organização revolucionária e seus materiais produzidos, tal como é a Liberdade e Luta, compreendemos que somente com o socialismo, a planificação da economia sob controle da classe trabalhadora, é possível dar fim a essa exploração e retirar a humanidade do caminho da barbárie total.
A crise capitalista que estourou em 2008, no coração do imperialismo, perdura até nossos dias, foi agravada pela pandemia do novo coronavírus, e tem um resultado irreversível: o crescimento da pobreza, com milhares de pessoas nas favelas e periferias, o desemprego alcançando picos históricos, e direitos trabalhistas e sociais conquistados pela luta operária atacados pelo Estado burguês, no Brasil e no mundo. Enquanto milhões vivem sem saneamento de esgoto, educação e atendimento eficaz do sistema de saúde, uma minoria de detentores dos meios produtivos, desfruta do acúmulo da riqueza produzida pela classe trabalhadora. De acordo com o índice de bilionários da Bloomberg, no Brasil durante o ano de 2020, em plena pandemia, 10 novos bilionários vieram se somar aos 55 já existentes totalizando uma fortuna de R$220 bilhões. Enquanto isso, mais de 80% dos acordos coletivos de trabalho foram assinados com reajuste abaixo da inflação, ou seja, com perda real de salários. É a concentração do capital numa velocidade absurda, como nunca vista.
Em contrapartida, os trabalhadores são obrigados a irem trabalhar durante a pandemia do coronavírus, arriscando suas vidas ao enfrentarem os transportes públicos em péssimas condições e superlotados, tudo para evitar uma situação ainda pior de desemprego. Toda desigualdade que vemos ao nosso redor é consequência direta da propriedade privada dos grandes meios de produção, pertencente à burguesia, que suga seu lucro do trabalho não remunerado dos trabalhadores.
Na atual situação de crise do capitalismo, de decadência econômica, social, cultural e política da sociedade, as formas de preconceito e opressão se intensificam ainda mais e o contexto se torna mais violento. A violência contra mulheres cresce e torna a situação mais degenerada. Nesse cenário de destruição, as pessoas são mortas em todo o mundo em função da sua religião, cor da pele, orientação sexual ou aparência, gerando as revoltas de massas que vimos e participamos no último período, em diversos países, contra o racismo e a violência policial. Estas mobilizações também se voltam contra o sistema, mostrando suas capacidades de derrotar definitivamente este modo produtivo. Os jovens compreendem a cada novo momento a irrefutável verdade: não existe capitalismo sem racismo e machismo, e LGBTfobia, já que o capitalismo é um sistema que tem seus pilares edificados nestas opressões para a divisão da classe trabalhadora e pela obtenção primitiva de seu acúmulo de capital.
Vemos uma degradação cada vez mais galopante do meio-ambiente, queimadas em função do agronegócio ou práticas ilegais que afetam biomas inteiros, expulsando os animais da seus habitats naturais e levando a fuligem a quilômetros de distância, trazendo mais problemas ao ar já poluído das cidades. O desmatamento, crises hídricas, ondas de calor e enchentes violentas se espalham em diferentes partes do planeta. Para além dos fenômenos naturais, a intervenção humana na natureza sem conscientização e a intervenção capitalista em grande escala trazem uma situação insustentável. Não à toa essa pauta sensibiliza cada vez mais camadas da juventude preocupadas com o futuro do planeta em que viverão. Para viver em harmonia com a natureza, é preciso uma economia planificada que faça uso racional dos recursos naturais para satisfazer as necessidades humanas sem agredir a natureza. Isso só será possível tomando os grandes meios de produção e organizando a economia sob o interesse da maioria e não dos lucros.
É fato que o sistema capitalista sempre colocou o lucro acima da vida e todo peso de suas crises nas costas da classe trabalhadora. No entanto, fica cada vez mais difícil para os capitalistas controlarem suas constantes crises e manterem as aparências de seu sistema apodrecido. A pandemia do coronavírus apenas escancarou a crise mais profunda da história do capitalismo. E no Brasil, tal como em outros países atrasados e governados pelos elementos mais reacionários da sociedade, a situação e o quadro caótico de mortes pelo coronavírus foram ainda mais cruéis e devastadoras. Para manter a taxa de lucros, a burguesia não assegurou o direito à vida, por meio da correta quarentena remunerada, enquanto os ricos estavam no conforto de seu isolamento social e com os melhores tratamentos, caso fossem contaminados. Aliada a isso, a produção ideológica de responsabilização dos trabalhadores pelo número de contaminação e mortes.
A partir do falso combate à pandemia e as desesperadas ações da burguesia e direções traidoras do proletariado em conservar o capitalismo, fica evidente que esse sistema é completamente incapaz de lidar com cada uma de suas crises e muito menos se sustentar sem usar a classe trabalhadora como “bucha de canhão”. O acirramento da luta de classes é, assim, incontrolável. Os protestos que vêm acontecendo em todo o mundo mostram que as massas não se sentem e de fato não estão derrotadas. Pelo contrário, estão dispostas a lutar mesmo nas piores circunstâncias contra esse descaso com suas próprias vidas contra esse sistema. É nessa situação que a classe trabalhadora está obrigada a combater internacionalmente e buscar a revolução socialista como condição de sobrevivência humana.
A história e nossa realidade não nos deixam dúvida que há apenas uma solução: revolução! Por isso, nós da Liberdade e Luta, combatemos pelo socialismo, superando as políticas de divisão entre os jovens e trabalhadores que o capitalismo lança por meio de políticas identitárias. Estas apenas dificultam a unidade entre estudante e trabalhador na luta contra a burguesia e seu modo de produção decrépito. Nós não precisamos de políticos burgueses e reformistas que nos “defendam” no parlamento ou que nos digam que irão resolver nossos problemas por meio das suas instituições. Na Liberdade e Luta, nos organizamos politicamente estando nos ombros dos gigantes revolucionários que nos deixaram o legado, a história e a teoria marxista. Com estas armas que vamos às ruas, às escolas, às universidades e aos locais de trabalho agitando e propagandeando as ideias do socialismo científico. A única perspectiva que nos apresenta algum futuro é derrubar esse sistema, realizando nosso papel enquanto juventude, que é ajudar na construção do poder econômico e político da classe trabalhadora e no efetivo desenvolvimento da Humanidade.
Deste modo, compreendendo que este sistema engendrou-se internacionalmente, trata-se de uma política contrarrevolucionária nos limitarmos às fronteiras nacionais. Nossa emancipação e vitória começa na arena nacional, com as reivindicações e conquistas transitórias, mas só terminam na arena mundial com a revolução permanente e o socialismo internacional. Por isso, na Liberdade e Luta, estamos constantemente em solidariedade e conexão com os jovens de todo o mundo, em campanhas e ações integradas pelo socialismo.
No capitalismo, a produção é coletiva, com todas as trocas internacionais, mas a apropriação é privada pelas burguesias e pelo imperialismo. Só conseguiremos derrotá-los quando toda produção for planificada e coletivizada, gerida e apropriada democraticamente para atender as necessidades de todos. Não há qualquer alcance das liberdades individuais sem essa resolução socialista, pois todas as demais alternativas, das abertamente liberais às que aparentam progressismo, limitam-se às relações capitalistas. A verdadeira liberdade só será alcançada quando não existirem mais fronteiras entre os países e todos possamos transitar pelo mundo inteiro livremente, sem as fronteiras arbitrárias.
Ao contrário do que os filósofos e teóricos pequeno-burgueses pregam, o desenvolvimento e o progresso da humanidade não se tratam de utopias ou realizações impossíveis, pois, como julgam, a “natureza humana” seria de exploração e pelos interesses individuais. O pessimismo é resultado da decadência do que estrutura nossas vidas e o pensamento, o modo produtivo. Longe desta perspectiva, a Liberdade e Luta compreende que a história da humanidade é a história da luta de classes e, por isso, lutamos cotidianamente por um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais, onde será possível construir o que disse a revolucionária Rosa Luxemburgo: “uma sociedade onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”.
Lutamos ao lado da classe trabalhadora porque esta é a classe que nada possui, senão sua própria força de trabalho, é a classe mais revolucionária de nosso tempo. Temos consciência que o mundo novo que almejamos não será concedido pelas classes dominantes, mas, sim, construído pelos explorados quando tomarem o poder.
O poder operário-camponês que será capaz de conquistar irrestritamente o direito à moradia, transporte, educação, saúde e, como disse Leon Trotsky, “não só o direito ao pão, mas também à poesia”. Para garantir vagas a todos os estudantes nas universidades públicas, para todos os que querem estudar e condições de trabalho para todos os profissionais da Educação, temos que lutar pela Educação Pública, Gratuita e para Todos.
Para tanto, o primeiro passo deve ser a construção do partido revolucionário e marxista, guiado pelo internacionalismo dos trabalhadores e da juventude. Em nossa conjuntura, esta construção se passa pela derrubada do governo Bolsonaro, que não representa os interesses da juventude e dos trabalhadores, mas, sim, aos interesses dos inimigos da nossa classe, a burguesia, em sua face mais reacionária. Por isso, convidamos a todos a se organizar e se formar politicamente junto à Liberdade e Luta, para que coletivamente consigamos enterrar o capitalismo e seus defensores de uma vez por todas, abrindo espaço para um novo sistema econômico que precisa nascer: o socialismo internacional.