3 anos de Ayotzinapa: não esquecemos que foi o Estado

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1 – São 3 anos após o desaparecimento dos alunos normalistas de Ayotzinapa, Guerrero. Por parte do Estado e do judiciário, o caso está encerrado. Os jovens e a classe trabalhadora continuam a reivindicar a justiça.

2 – O Estado e o crime organizado, que em muitos casos são o mesmo, são responsáveis ​​pelo desaparecimento de camaradas normalistas. O slogan #FueElEstado ganhou relevância e investigações independentes avançaram depois que o governo federal praticamente declarou o caso encerrado.

3 – Sabe-se agora que o exército, a polícia federal, estadual e municipal estavam conscientes das agressões contra os normalistas durante a noite trágica em Iguala, Guerrero e que, por trás de sua aparente omissão, há cumplicidade nos fatos.

4 – Também se sabe que os telefones celulares dos normalistas estavam funcionando, algumas pesquisas até indicam o Centro de Pesquisa e Segurança Nacional (Cisen) e o Campo Militar Nº 1.

5 – No dia 27 de setembro foi encontrado o corpo do camarada Julio César Mondragón esfolado nas ruas de Iguala, a versão oficial é que seu rosto foi devorado por animais. De acordo com a pesquisa apresentada pela jornalista Maribel Gutiérrez, no jornal “El Sur”, é de salientar que, em 17 de outubro de 2014, uma chamada foi registrada no celular do normalista e essa chamada não é a única, faz parte das 31 chamadas realizadas entre de 27 de setembro de 2017 e 4 de abril de 2015, algumas delas para o campo militar Nº1.

6 – Havia mais atividade nos telefones dos normalistas, às 1:16 da madrugada, em 26 de setembro de 2014, o aluno Jorge Aníbal Cruz, enviou uma mensagem à sua família, onde urgentemente pediu uma recarga. De acordo com a versão oferecida pela PGR naquela época, os colegas estudantes já estariam mortos. O telefone de Jorge Antonio Tizapa, registrou atividade em 4 de outubro de 2014, bem como de outros cinco normalistas. Isso contradiz a versão oficial dada pelo governo federal.

7 – Existe também uma versão de uma rede de tráfico de drogas e armas de Iguala para a fronteira do norte, os normalistas, inconscientemente, tomaram vários ônibus que foram usados ​​como transporte. Esta rede envolve agentes federais, estaduais e locais, incluindo o exército e diferentes níveis da polícia.

8 – Sugerir que os Narcotraficantes são os responsáveis, não justifica nada. Em distintas partes do país as redes de narcotráfico e o Estado se confundem, inclusive não se sabe se o Estado tem relações com o crime organizado ou se é o crime organizado que controla o Estado.

9 – Tampouco devemos esquecer que o ataque e o desaparecimento foi dirigido contra uma das organizações mais combativas a nível nacional: a Federação de Estudantes Camponeses Socialistas do México (FECSM).

10 – A FESCM reúne os estudantes normalistas rurais em nível nacional, de suas fileiras saíram diversos dirigentes revolucionários e do magistério democráticos. Nas normales rurales [1] se educa uma geração de futuros professores que poderiam ser uma oposição férrea aos desejos do governo federal e do grande capital.

11 – O desaparecimento dos normalistas se dá num contexto de ataques generalizados à educação pública, mas em particular ao projeto de escolas normales ameaçadas de extinção há muito tempo.

12 – Também em um ambiente de criminalização, perseguição política aos lutadores sociais, de esquerda e revolucionários, que em todo o país enfrentam os interesses do grande capital e seus títeres no governo.

13 – Durante três anos, seguimos exigindo justiça, o aparecimento com vida de nossos companheiros normalistas, o castigo aos responsáveis e seguimos lutando contra um Estado que não representa os interesses da maior parte da população, da juventude, dos trabalhadores e camponeses pobres, que esse Estado representa os interesses de uma minoria, a burguesia e que esse Estado está aliado ou controlado pelo crime organizado em muitas regiões do país.

14 – Durante três anos e seguimos lutando contra os desaparecimentos, contra a violência institucional, pela defesa dos interesses da juventude e da classe operária.

 

[1] As escolas “normalistas” foram parte do projeto Lazaro Cárdenas para a implementação de uma rede educacional no país, essas escolas são direcionadas para a formação de professores da educação básica. As “normales rurales” são assim chamadas por estarem sediadas em locais distantes da capital ou das principais cidades em seus estados.

Texto originalmente publicado no site da Izquierda Socialista no dia 26 de setembro de 2017.
Tradução: Daison Colzani e Evandro Colzani.

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