Apoio ao abaixo-assinado por três refeições diárias nos finais de semana no bandejão da USP

A Associação de moradores do CRUSP lançou um abaixo-assinado reivindicando a implementação três refeições diárias nos restaurantes universitários da USP, também em finais de semana. Atualmente as três refeições só são garantidas durante a semana, prejudicando muito os moradores do CRUSP e outros estudantes que moram próximo à cidade universitária e utilizam os restaurantes universitários.

A Liberdade e Luta apoia essa iniciativa e chama todos os leitores a assinarem o abaixo assinado pela implementação da janta aos finais de semana no restaurante central. Para o conjunto residencial, essa reivindicação é urgente, e, desse modo, é importante lutar incisivamente para que ela seja alcançada.

O CRUSP é a moradia estudantil da USP, que tem como função social abrigar os estudantes que não teriam como se manter durante o período de graduação ou pós graduação. Ou seja, é um serviço público que tem sofrido intensa precarização. Além da falta de vagas, que acarreta uma situação instável em que moradores são colocados contra moradores e muitos estudantes não conseguem ingressar e permanecer na universidade, ainda existe uma série de problemas relacionados ao período de estadia no conjunto residencial. Um deles é a falta de alimentação completa nos finais de semana e feriados prolongados.

Os moradores do CRUSP vivem sob constantes ataques. Um deles é a omissão e a Universidade de São Paulo sempre foi muito boa em ser omissa com os problemas que existem no conjunto residencial. Por exemplo, diante dessa situação grave, a USP recusou-se por anos a reformar os blocos como também a construir novos e resolver os problemas de moradia.

A universidade poderia também resolver problemas como a falta de circulares periódicos nos finais de semana, que é uma situação que coloca os moradores, os quais vivem ilhados na cidade universitária, em um grande problema de locomoção dentro e fora da Cidade Universitária. Principalmente quando precisam sair para trabalhar ou para compromissos, ou até mesmo para se alimentar.

O auxílio alimentação é um benefício que garante aos estudantes beneficiários o acesso a refeições gratuitas no Restaurante Universitário da USP. Esse auxílio, garantido atualmente a poucos estudantes e que até esse ano nem era estendido para a pós graduação, tem como principal deficiência o fato de que os créditos de nada valem se os restaurantes não estiverem abertos. Aos sábados, o restaurante central abre para café da manhã e almoço e aos domingos o restaurante da química segue a mesma agenda. Provavelmente, a universidade deve pensar que a massa dos estudantes não frequenta o espaço da cidade universitária nos finais de semana e que os moradores do CRUSP e das regiões próximas não necessitem de alimentação noturna, e que embora seja um perrengue, ninguém morreu de fome até o momento por ficar sem janta. Imagino que a reitoria da universidade deva achar que essa lógica faz todo sentido. Felizmente, os que vivem o perrengue de não ter as três refeições diárias não pensam do mesmo jeito e a luta pela alimentação digna torna-se novamente uma reivindicação dos cruspianos.

Também é importante ressaltar que os apartamentos do CRUSP não foram projetados para ter uma cozinha. Alguns tem uma cozinha improvisada. Há cozinhas coletivas, mas nem sempre isso permite resolver esse problema. A reitoria anunciou reformas que instalarão cozinhas em todos os apartamentos, a começar esse ano. É uma conquista parcial, mas importante. Mas entre ter uma cozinha e ter comida, há uma distância.

Certamente todos sabem dos problemas pelo qual passa o país e o aumento significativo dos casos de insegurança alimentar. O CRUSP abriga justamente os setores dos estudantes da USP advindos da classe trabalhadora, com menos recursos, ou seja, aqueles que estão mais próximos de sofrer com a fome.

Um relato sobre as jantas durante a pandemia

Durante a pandemia, enquanto a universidade estava funcionando em atividades remotas, com aulas virtuais, o bandejão que podia ser utilizado era o restaurante das químicas, que tem o serviço terceirizado, as marmitas tinham qualidade duvidosa e numerosos foram os casos de moradores do CRUSP reclamando de problemas de saúde relacionados à péssima condição da comida. Nesse cenário, a universidade parece ter aberto os olhos para a questão da janta nos finais de semana, mas escolheu uma solução que mascarava sua omissão diária. Passou distribuir nos finais de semana, junto com as marmitas, um kit janta com uma caixa de suco pequena, um pão com muçarela e uma fruta ou barrinha de cereal. Qualquer pessoa sensata vai saber que esse tipo de solução não servia em nada como alimento digno para jantar, já que não atende às necessidades básicas nutricionais do corpo humano. É interessante perceber que por entregar um kit janta, a universidade estava informada da situação dos moradores do CRUSP nas noites de final de semana. Passado o período de aulas virtuais, a universidade voltou a entender que os cruspianos não precisavam mais disso e parou de distribuir o kit, afinal estávamos voltando à normalidade e, agora, a universidade não precisava mais mascarar-se da imagem de que realmente se importava com a saúde dos cruspianos.

Talvez a universidade pense que os cruspianos, não tem consciência de sua própria situação e que não lutariam pelas suas reivindicações mais centrais. A história de luta da classe trabalhadora sempre mostrou o inverso. Mesmo com a paralisia que a maior parte as direções do movimento estudantil impuseram nos últimos  anos e seguem impondo ao conjunto dos estudantes, essa luta ressurge.

A necessidade da Frente Única para conquistar essa reivindicação!

Saudamos a iniciativa da AMORCRUSP ao lançar esse ABAIXO-ASSINADO, que atualmente conta com a adesão de mais de 25 Centros Acadêmicos. A Liberdade e Luta, consultada durante sua preparação, apoiou a iniciativa desde o princípio e está entre os primeiros signatários.

Lamentavelmente, nem o DCE (dirigido pelo Juntos, Correnteza, UJC e Ecoar) e nem os CAs da maior faculdade, a FFLCH (dirigidos por organizações como PSTU, Correnteza, Ecoar, Já Basta!, UJC) assinaram. Sabemos que tais organizações apoiam  ou, no mínimo, se mantém “neutras” diante da tentativa de golpe dada pela REM (grupo autonomista) que autotintulou-se nova gestão da AmorCrusp, após dissolver com uso de violência uma assembleia no CRUSP. Mas abrir mão de um combate conjunto por uma reivindicação tão sentida por tantos estudantes da USP, é um erro enorme.

É necessário que as lutas abarquem o máximo possível de forças à disposição. Além de ser uma luta necessária sob o ponto de vista da melhora das condições de vida dos cruspianos e outros estudantes, é necessária sob o ponto de vista do avanço da consciência política.

A ameaça da privatização

O Restaurante Universitário central, que fica no CRUSP, é o único que ainda não foi terceirizado. A luta pelo atendimento das três reivindicações deve preparar o movimento estudantil, não apenas para combater os planos de privatização da reitoria, apoiados pelo ultrarreacionário governo  de Tarcísio, como para abrir os caminhos para a luta por reverter a privatização dos demais restaurantes.

Construir um ato de entrega do Abaixo-assinado

Chamamos à assinatura do abaixo assinado, junto com diversos CAs e organizações que já aderiram à campanha, mas frisamos a necessidade de que esse documento não chegue para a reitoria sem o peso da pressão do movimento estudantil. Assim, chamamos quem se coloca a disposição nessa luta para construir, em conjunto com a AMORCRUSP, um ato de entrega do abaixo assinado. É necessário que todas as organizações e entidades estudantis que já assinaram o documento construam essa mobilização a partir de assembleias nos cursos e construção de blocos para o ato de entrega. Também é necessário que o DCE, como entidade máxima de representante dos estudantes, participe lado a lado com os moradores do CRUSP, assinando, impulsionando o abaixo assinado e construindo a luta em todas as frentes de atuação na USP.

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