Crítica do filme Capitão América: Guerra Civil

cwEscrevo essa análise do filme Capitão América: Guerra Civil, do lugar de alguém que não acompanha os acontecimentos dos últimos filmes da Marvel e tão pouco leu os quadrinhos. Escrevo de um posicionamento leigo quanto às tramas construídas entre os diversos heróis nos outros filmes, logo, imprecisões no âmbito pessoal dos personagens são não só possíveis, quanto prováveis. A análise aqui feita tem como base única e exclusivamente o filme, sem qualquer referência à outra história ligada aos personagens. Sem dúvida ela extrapolará um resumo do filme, e ela não se pretende a isso, mas buscará uma visão crítica dos elementos ideológicos que acenam nos discursos dentro das cenas.

O filme inicia em um cenário catastrófico de guerra generalizada entre poderosas forças alheias e praticamente incontroláveis aos governos em torno do mundo. Sem conseguir não pensar nos X-Men, algo parecido com essa série de filmes acontece no roteiro: os super-humanos tornaram-se uma ameaça à paz mundial quando passaram a formar exércitos particulares ou milícias privadas com interesses variados que se chocam. Não há clareza na fundamentação da guerra civil, ou pelo menos a justificativa por empregar tal classificação, apesar de termos algumas pistas sobre.

cwEscrevo essa análise do filme Capitão América: Guerra Civil, do lugar de alguém que não acompanha os acontecimentos dos últimos filmes da Marvel e tão pouco leu os quadrinhos. Escrevo de um posicionamento leigo quanto às tramas construídas entre os diversos heróis nos outros filmes, logo, imprecisões no âmbito pessoal dos personagens são não só possíveis, quanto prováveis. A análise aqui feita tem como base única e exclusivamente o filme, sem qualquer referência à outra história ligada aos personagens. Sem dúvida ela extrapolará um resumo do filme, e ela não se pretende a isso, mas buscará uma visão crítica dos elementos ideológicos que acenam nos discursos dentro das cenas.

O filme inicia em um cenário catastrófico de guerra generalizada entre poderosas forças alheias e praticamente incontroláveis aos governos em torno do mundo. Sem conseguir não pensar nos X-Men, algo parecido com essa série de filmes acontece no roteiro: os super-humanos tornaram-se uma ameaça à paz mundial quando passaram a formar exércitos particulares ou milícias privadas com interesses variados que se chocam. Não há clareza na fundamentação da guerra civil, ou pelo menos a justificativa por empregar tal classificação, apesar de termos algumas pistas sobre.

A base da discórdia toda está em 1991, dois anos após a queda do muro de Berlim e no ano da queda da URSS(União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), quando comandantes soviéticos vestidos com roupas militares comunistas, colocam-se arrogantemente na posição de futuros donos do mundo, dotados de poderes místicos em suas palavras que garantem a construção de super soldados hipnotizados que atuam a mando daquele as proferiu. Detendo de instrumentos técnicos e um conhecimento científico avançado, que curiosamente muitas pessoas durante a guerra fria, na época do marcartismo, acreditavam ser um projeto conspiratório real dos soviéticos no aperfeiçoamento dos atributos humanos no intento de construir um exército que dominaria o mundo, são criados super-humanos que são capazes de dominar qualquer estado do mundo por dentro, sem necessidade de um exército invasor sofisticado e massivo.

Daí surge uma associação com a dinâmica da luta de classes e com a escolha desse lugar soviético do sujeito que conspira para causar uma desestabilização na “paz mundial” em nome do “poder” e da “maldade”. O clássico maniqueísmo dos defensores da liberdade norte-americanos contra os regimes chamados de ditatoriais pelos aliados dos EUA aparece de forma oculta. O que o filme se propõe a fazer, que é inversão dos papéis por uma confusão inerentemente humana sobre as escolhas certas a serem feitas, entre os dois “times” – como costumam-se falar –, do Capitão América, e do Homem de Ferro, não passa nem perto de quebrar o maniqueísmo oculto na confusão dos dois times do método a ser utilizado no intento de destruir o inimigo externo. A disputa entre o certo e o errado a se fazer no momento da guerra ainda estão se passando dentro do lado do “bem”, ou seja, de tudo que seja a antítese do malvado comando militar soviético tentando salvar-se perto do último suspiro.

Os comunistas então são colocados como uma ameaça à humanidade, conspiradores externos aos acordos internacionais de paz e potenciais sociopatas. Tudo isso de uma maneira incrivelmente discreta, mas que nem por isso deixa de conservar seu peso em astúcia. A mensagem revela-se para olhares menos seduzidos pelos efeitos especiais, músculos esculpidos e belas atrizes: os comunistas atuam de maneira conspiratória e ameaçam a paz mundial, milícias privadas podem trazer a paz mundial contra os comunistas se devidamente aliadas aos Estados aliados aos EUA, a entidade Estado-nação é legítima e deve ser conservada a todo custo, a ONU representa o interesse internacional acima e contra interesses particulares de qualquer grupo ou nação, as ditaduras árabes são aliadas dos Estados Unidos. Utilizando Thomas Hobbes, o mundo precisaria novamente ascender a uma posição acima das lutas da sociedade civil para reestabelecer a paz, mesmo que para isso seja necessário um salvador transtiróio, um Leviatã, nesse filme representado pela milícia The Avengers (Os Vingadores).

A cena final – após a derrota do grande inimigo em todas as suas formas, após a salvarem o jovem soldado “manipulado” pelos soviéticos do seu estado de hipnose implantado de forma perversa – deixa claro o papel da paz mundial que agora foi reestabelecida. Tony Stark aparece em seu Lamborghini laranja de forma magistral, vestido de roupas de última qualidade e apresentando aquele clássico ar de empresário dono do mundo. Ao fim, podemos perguntar, será que essa paz mundial alcançada ao final da guerra civil (repetindo: muito mal explicada) serviram para garantir que o grande empresário da indústria de armas Tony Stark pudesse continuar a andar em seu carro importado pelas ruas pacificadas e cooptar estudantes para os projetos científicos de sua empresa? O adolescente Peter (Homem Aranha) representa nesse cenário a divisão de águas entre um mundo velho e o mundo novo. Recrutado – lê-se comprado – pelo empresário Tony Stark, é apresentado como uma figura poderosa, mas que pode ser facilmente manipulada pelo ideal de um outro.

A salvação do mundo e a reestruturação da paz mundial no futuro da humanidade parece precisar desse adolescente, e Stark reconhece isso. Antes que essa figura inocente pudesse sucumbir aos interesses do “inimigo”, seja lá qual for, é melhor recrutá-lo para o lado “certo”. E mais: ao lado dessa importância do papel do adolescente, há uma grande desmoralização de sua iniciativa própria ao atribuí-lo uma natureza manipulável. Talvez a juventude de hoje seja mais perigosa que todas as milícias privadas, governos, entidades mundiais e grupos obscuros juntos, exatamente porque representa esse mundo do amanhã que cada vez menos passa pelo controle destes. Hollywood mostrou novamente nesse filme sua grande capacidade de formular fortes peças ideológicas sem utilizar de um formato panfletário, atitude inteligente de quem goza do estabilishment – e por isso deseja mantê-lo.

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