Para que as mulheres sírias não morram em silêncio

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siriaEu li uma notícia que me embrulhou o estômago no almoço. As lágrimas vieram silenciosas. Tem mulheres e meninas morrendo. Em algum lugar do mundo que está declaradamente em guerra. Famílias pedindo permissão a seus líderes religiosos para que elas tenham a chance de se matar antes que o exército inimigo chegue. Uma bola se formou na minha garganta e senti meu humor adoecer. Engoli seco. Pensei em compartilhar a publicação mas optei por manter meus amigos e amigas dentro de suas respectivas bolhas protetoras. 

Todos estamos sentados em nossos escritórios, em pé nas nossas fábricas e salas de aula. E na verdade são deles os escritórios, fábricas e escolas. Até mesmo os hospitais. É de outros o poder e diante deles nos sentimos pequenos e incapazes de fazer algo. Lutamos de dentro da nossa zona de conforto para que haja previdência social e hoje pagamos uma contribuição ao INSS forçada, dinheiro saindo do nosso trabalho que vai para não se sabe onde. E não volta, se eu tiver que trabalhar por 65 anos para recebê-lo.

Publicamos notas de apoio em nossos Facebooks e vamos às ruas com cartazes nas mãos dizendo não a um presidente não eleito e a uma PEC que congela os “gastos sociais” em 20 anos. Lá do alto de seu poder nossos “representantes” bebem champagne e olham pela janela enquanto secundaristas apanham da polícia na tentativa de proteger o pouco incentivo à educação que ainda lhes resta.

Eu não acredito que já tenha lutado o suficiente para gozar dos direitos que gozo hoje. Mas sei que mulheres antes de mim o fizeram. Saio cansada do trabalho, mas é meu direito trabalhar. Chego cansada na faculdade, mas é meu direito estudar. Participo de um pequeno grupo de pessoas que resiste e sonha com um futuro melhor para todos. Inclusive para as minhas irmãs de sangue, que tem hoje 8 e 9 anos. Igualmente para as minhas irmãs de coração. 

Ando a noite pela rua que leva à minha casa usando a roupa que eu quiser, mas com um apito na mão. Não temo pela minha carteira. Nunca tive muito dinheiro. Tampouco pelo meu celular. Compro outro quando puder. Além do mais, é supérfluo. Mas só respiro aliviada quando viro a chave pelo lado de dentro da porta de casa. Porque eu temo pela minha vida, temo pela minha integridade física e pela minha saúde mental.

Digito quase sempre uma mensagem trêmula para quem se despediu de mim alguns minutos atrás: cheguei.

Mas essas mulheres, não me responderiam de volta sequer um “ok”. Lhes foi roubado o direito à vida. Não me sinto capaz de ajudá-las. Eu não tenho poderes para isso. E todos sairão impunes deste crime de guerra.

Quando o objetivo é dinheiro, “pessoas viram coisas e cabeças viram degraus”. As minhas lágrimas não são nada comparadas ao que estas pessoas estão enfrentando.

Não consigo acreditar num mundo mais justo se ele continuar sendo regido pelo lucro de poucos e sofrimento de muitos. Mas ainda tenho as palavras. Espero que não as tirem de mim. Meu coração está com estas mulheres. Eu escrevo para que suas mortes não sejam tão brutalmente silenciadas.

*Larissa é uma jovem trabalhadora e cursa Licenciatura em História na Univille – uma universidade pública com caráter privado em Joinville (SC). 

Esse é um desabafo após a leitura de uma notícia publicada nesse link: http://m.oglobo.globo.com/mundo/familias-pedem-autorizacao-para-matar-filhas-evitar-estupro-em-aleppo-20646105#ixzz4Sut2oH2S. 

A Liberdade e Luta é uma organização de juventude que luta, junto da classe trabalhadora, pela revolução internacional. Só o fim do capitalismo no mundo todo pode impedir o que a revolucionária alemã, Rosa Luxemburgo, já previa: a barbárie. Façamos o socialismo!

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